Não posso adiar o amor; Ramos Rosa

Não posso adiar o amor
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
Que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha
vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, Viagem Através duma Nebulosa, Lisboa, Ática, 1960


Análise formal
O poema seleccionado tem como título “Não posso adiar o amor” e o seu autor é António Ramos Rosa. Do ponto de vista formal, o poema não apresenta uma estrutura estrófica e métrica regular.
Análise interna
O tema deste poema é certamente o amor. Nele fala-se de um amor inadiável e o modo como influencia a vida do poeta. A ideia de que o amor é inadiável, apresentada desde logo no título, está presente ao longo de todo o poema e é bem visível na construção anafórica do poema, em que o 1º verso de cada estrofe repete a expressão “não posso adiar”. Desta forma o sujeito poético afirma a sua incapacidade de negar o amor, uma vez que o amor surge no poema como sinónimo de vida e de liberdade. Outro aspecto a salientar no poema é a existência de duas forças opostas, sendo elas o amor e o ódio. Vários são os elementos negativos que vão surgindo ao longo do poema: o grito que sufoca a garganta; o ódio que estala; sob montanhas cinzentas; a noite que pesa séculos sobre as costas, como se nunca acabasse; “a aurora indecisa” que demora a chegar, como se a esperança de um novo dia nunca se concretizasse.
A todos estes elementos, o sujeito poético contrapõe o amor como se fosse um abraço, “uma faca de dois gumes”, que pudesse conciliar, ou melhor, fazer uma ponte, uma ligação entre o amor e o ódio.
O sujeito poético termina afirmando a sua incapacidade de adiar o amor, ou seja, a vida, reclamando uma existência em que a liberdade esteja no centro da sua vida “não posso adiar para outro século a minha/ vida/ nem o meu amor/ nem o meu grito de libertação”
Por fim o poema apresenta como desfecho um monóstico em que o sujeito poético sintetiza a expressão dos seus sentimentos afirmando somente “não posso adiar o coração”.

Trabalho realizado pela colega Mafalda Ferreira

2 comentários:

Anónimo disse...

O amor neste poema é uma metafora para a "liberdade" vivida naquele momento ( antes do salazar )

Senpai disse...

Xd muito bonito obrigado ajudou na escola Xd