Tratamento da informação. Pesquisa, selecionar e organizar informação, esquematizar a informação.
Ter atenção a...
A escrita de um texto, por mais simples que seja, exige 40% de inspiração e 60% de transpiração. O método proposto baseia a construção de textos numa actividade dividida por três fases:
1. A ideia, inspiração e a estrutura.
2. Documentação a partir da pesquisa e reflexão e criação do texto
3. A revisão final
A primeira fase, a ideia e a estrutura, obriga-nos a definir o que se pretende escrever (mensagem), quem será o destinatário (leitor ou leitores) e como é apresentada essa mensagem (estrutura).
A estrutura deve servir a ideia e deve ser constituída após a escrita num papel dos principais pontos a introduzir. Com base no material obtido – ideia e frases de suporte – é possível esboçar uma primeira estrutura.
A segunda fase, documentação e criação do texto, exige uma pesquisa sobre o tema escolhido para saber quem, quando, porquê, com que argumentos, com que exemplos, com que provas, com que factos…
A terceira fase, revisão final, inclui as tarefas que os processadores de texto tão bem sabem fazer, isto é, a verificação ortográfica, a paginação, a criação de uma tabela de conteúdos, a criação de índices, a proposta de palavras alternativas … A garantia de um «fio condutor» de início ao fim, facilita a leitura do texto e torna claro o seu conteúdo, envolvendo o leitor nos argumentos e/ou trabalho realizado pelo autor. Resta acrescentar que o método descrito exige um tempo mínimo para ser realizado e desta forma é inimigo das iniciativas do tipo; «vou fazer o trabalho no dia seguinte», «vou à net e faço no último dia».
Escrever bem; alguns conselhos
Textos mal escritos normalmente não são lidos, ou não são compreendidos. Com um bocado de azar acontecem ambos os casos. :-)
Algumas regras simples.
1. Ser simples e conciso. - Consegue-se encurtar ou simplificar uma oração? - Consegue-se eliminar alguma palavra, mantendo o sentido da expressão?
2. Contextualizar. - Quem lê um texto, não tem acesso ao que estávamos a pensar. - Adicionar informação suficiente para o texto ser completo.
3. Não ser ambíguo. - Evitar expressões que possam ter vários significados. - Ser claro e exemplificar sempre que necessário.
4. Uniformizar. - Manter o mesmo estilo de escrita ao longo de um texto. - Usar o mesmo tempo verbal para descrever a mesma acção temporal. - Usar a mesma pessoa, primeira pessoa do plural.
A Arte de Bem Escrever, alguns conselhos práticos.
1. Usar frases simples e curtas.
2. Preposições não são palavras que as frases devam acabar com.
3. Evitar símbolos & abreviações, etc...
4. Observações entre parêntesis (ainda que relevantes) são desnecessárias.
5. Não usar uma palavra estrangeira, se existir um substituto em português; quid pro quo.
6. Nunca generalizar.
7. Evitar citações: «Detesto citações. Digam-me antes o que sabem» Ralph Waldo Emerson.
8. As comparações são tão más como os "clichês".
9. Não ser redundante, não usar mais palavras que o necessário, é altamente supérfluo.
10. Evitai expressões arcaicas, quiçá.
11. Nunca escrever errado, mesmo que há annos atrás fosse correcto.
12. Exagerar, é um milhão de vezes pior que omitir.
13. Frases de uma só palavra? Eliminar. Sempre!
14. Não repetir, ou dizer outra vez, aquilo que tinha sido dito antes.
15. Quem precisa de perguntas retóricas?
16. Não usar vírgulas, que, não são, necessárias.
17. Nunca separar o sujeito do predicado por uma vírgula.
18. Não usar hipérboles: apenas uma num milhão é bem conseguida.
19. Ser sempre mais ou menos específico.
20. Usar um correctore ortográfico, para evitar errus ortográficos.
21. Não te repitas, nem digas o que disseste antes.
22. Nunca não usar nenhuma dupla negativa.
23. Reler sempre cuidadosamente, para ver se não nenhuma palavra.
24. Não abusar no uso de pontos de exclamação!!!
25.Terminar as frases com verbos de ligação, não se deve.
26. Terminar sempre o que -----------------
27. Nunca usar "etc" -- causa a impressão que ficou algo por dizer, ou que não existe espaço para listar mais, etc...
28. Nunca levantar excepções às generalizações, excepto em casos particulares.
29. Não exemplificar o que é óbvio. Por exemplo, as frases simples não precisam de ser apoiadas por factos.
30. Evitar as reticências... normalmente dois pontos... ou uma vírgula... são mais apropriados...
Uma proposta para escrevermos um texto…
Escrever um texto: exemplo
- Tema; de que vamos falar (Um parágrafo)
- Assunto; o que vamos dizer acerca do tema e enunciar os aspectos que vamos desenvolver (Um parágrafo) Exemplo: 1- Ignorância 2- Alheamento 3- Arrogância
Conclusão:
Para além do tempo
Estava eu no autocarro, sentado nos bancos de trás a ouvir a música: «U Make Me Wanna» quando, de repente, a bateria foi a baixo.
- Não tenho nada para fazer e ainda faltam dez minutos para o autocarro partir. Se estão a perguntar porque estou tão cedo no autocarro é porque tenho sempre um certo receio em perdê-lo.
Faltavam sete minutos para partir quando vejo uma idosa a entrar e a sentar-se nos bancos da frente. Aqueles que são para deficientes, grávidas e crianças de colo. A senhora estava a olhar para a janela como se estivesse à espera de alguém.
Faltavam três minutos para partir, quando aparece outra idosa, ofegante, porque estava com receio de perder o autocarro, como eu. Mal a senhora entra, a outra que lá estava, rasga um sorriso enorme, como se fosse uma sua amiga muito querida de há muitos anos.
O autocarro partiu, tendo eu uma vista privilegiada para o que estava a acontecer: O nascimento de uma bela amizade, forte, que iria durar muito tempo.
Ao longo daquelas quatro paragens, falou-se do tempo, de política e até de sexo entre aquelas duas senhoras completamente desconhecidas ate aí.
A partir desse momento, as senhoras encontraram-se todos os dias à mesma hora no mesmo lugar, no autocarro das 13:25h.
Um dia tomei conhecimento que uma das senhoras tinha falecido e fiquei devastado ao tomar conhecimento desta notícia, pois mal a sua amizade tinha florescido terminara.
Mas ao chegar ao autocarro, tenho uma surpresa … Vejo uma das senhoras e uma jovem ao seu lado, que não é mais nem menos que a neta da senhora que tinha falecido.
Quando me cruzei novamente com aquela jovem, descobri que, na altura em que a sua avó tinha morrido, esta lhe pedira para apanhar o autocarro das 13:25h todos os dias. Deste modo não entristecia a sua amiga, que assim continuaria a conversar sobre politica, tempo e sexo.
João Pedro Loureiro Passos Nº19 10º7ª
“O menino que escrevia versos”: Mia Couto.
Pequena colectânea de contos.
Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem-se sempre ou do ioga ou da pintura abstracta.
Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.
De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.
A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
Isto obriga Mónica a observar uma disciplina severa. Como se diz no circo, «qualquer distracção pode causar a morte do artista». Mónica nunca tem uma distracção. Todos os seus vestidos são bem escolhidos e todos os seus amigos são úteis. Como um instrumento de precisão, ela mede o grau de utilidade de todas as situações e de todas as pessoas. E como um cavalo bem ensinado, ela salta sem tocar os obstáculos e limpa todos os percursos. Por isso tudo lhe corre bem, até os desgostos.
Os jantares de Mónica também correm sempre muito bem. Cada lugar é um emprego de capital. A comida é óptima e na conversa toda a gente está sempre de acordo, porque Mónica nunca convida pessoas que possam ter opiniões inoportunas. Ela põe a sua inteligência ao serviço da estupidez. Ou, mais exactamente: a sua inteligência é feita da estupidez dos outros. Esta é a forma de inteligência que garante o domínio. Por isso o reino de Mónica é sólido e grande.
Ela é íntima de mandarins e de banqueiros e é também íntima de manicuras, caixeiros e cabeleireiros. Quando ela chega a um cabeleireiro ou a uma loja, fala sempre com a voz num tom mais elevado para que todos compreendam que ela chegou. E precipitam-se manicuras e caixeiros. A chegada de Mónica é, em toda a parte, sempre um sucesso. Quando ela está na praia, o próprio Sol se enerva.
O marido de Mónica é um pobre diabo que Mónica transformou num homem importantíssimo. Deste marido maçador Mónica tem tirado o máximo rendimento. Ela ajuda-o, aconselha-o, governa-o. Quando ele é nomeado administrador de mais alguma coisa, é Mónica que é nomeada. Eles não são o homem e a mulher. Não são o casamento. São, antes, dois sócios trabalhando para o triunfo da mesma firma. O contrato que os une é indissolúvel, pois o divórcio arruína as situações mundanas. O mundo dos negócios é bem-pensante.
É por isso que Mónica, tendo renunciado à santidade, se dedica com grande dinamismo a obras de caridade. Ela faz casacos de tricot para as crianças que os seus amigos condenam à fome. Às vezes, quando os casacos estão prontos, as crianças já morreram de fome. Mas a vida continua. E o sucesso de Mónica também. Ela todos os anos parece mais nova. A miséria, a humilhação, a ruína não roçam sequer a fímbria dos seus vestidos. Entre ela e os humilhados e ofendidos não há nada de comum.
E por isso Mónica está nas melhores relações com o Príncipe deste Mundo. Ela é sua partidária fiel, cantora das suas virtudes, admiradora de seus silêncios e de seus discursos. Admiradora da sua obra, que está ao serviço dela, admiradora do seu espírito, que ela serve.
Pode-se dizer que em cada edifício construído neste tempo houve sempre uma pedra trazida por Mónica.
Há vários meses que não vejo Mónica. Ultimamente contaram-me que em certa festa ela estivera muito tempo conversando com o Príncipe deste Mundo. Falavam os dois com grande intimidade. Nisto não há evidentemente, nenhum mal. Toda a gente sabe que Mónica é seriíssima toda a gente sabe que o Príncipe deste Mundo é um homem austero e casto.
Não é o desejo do amor que os une. O que os une e justamente uma vontade sem amor.
E é natural que ele mostre publicamente a sua gratidão por Mónica. Todos sabemos que ela é o seu maior apoio; mais firme fundamento do seu poder.
Sophia de Mello Breyner Andresen Contos ExemplaresPorto, Figueirinhas, 1996 (29ª ed.).
Tudo se embrulhava em apuros e eu fazia contas à vida. O medo é uma faca que corta com o cabo e não com a lâmina. A gente empunha a faca e, quanto maior a força de pulso, mais nos cortamos.
— Para trás!Obedeci à ordem, tropeçando até me estancar de encontro à parede. O gelo endovenoso, o coração em cristal: eu estava na ante-câmara, à espera de um simples estalido. Cumpria os mandamentos do assaltante, tudo mecanicamente. E mais parvalhado que o cuco do relógio. O que fazer? Contra-atacar? Arriscar tudo e, assim sem mais nem nada, atirar a vida para trás das costas?— Diga qualquer coisa.— Qualquer coisa?— Me conte quem é. Você quem é?Medi as palavras. Quanto mais falasse e menos dissesse melhor seria. O maltrapilho estava ali para tirar os nabos e a púcara. Melhor receita seria o cauteloso silêncio. Temos medo do que não entendemos. Isso todos sabemos. Mas, no caso, o meu medo era pior: eu temia por entender. O serviço do terror é esse — tornar irracional aquilo que não podemos subjugar. — Vá falando.— Falando?— Sim, conte lá coisas. Depois, sou eu. A seguir é a minha vez.
Depois era a vez dele? Mas para fazer o quê? Certamente, para me executar a sangue esfriado, pistolando-me à queima-roupa. Naquele momento, vindo de não sei onde, circulou por ali um furtivo raio de luz, coisa pouca, mais para antever que para ver. O fulano baixou o rosto, e voltou a pistola em ameaça.
— Você brinca e eu …Não concluiu ameça. Uma tosse de gruta lhe tomou a voz. Baixou, numa fracção, a arma enquanto se desenvencilhava do catarro. Por momento, ele surgiu-me indefeso, tão frágil que seria deselegância minha me aproveitar do momento. Notei que tirava um lenço e se compunha, quase ignorando minha presença.
— Vá, vamos mais para lá.
Eu recuei mais uns passos. O medo dera lugar à inquietação. Quem seria aquele meliante? Um desses que se tornam ladrões por motivo de fraqueza maior? Ou um que a vida empurrara para os descaminhos? Diga-se de passagem que, no momento, pouco me importavam as possíveis bondades do criminoso. Afinal, é do podre que a terra se alimenta. E em crise existencial, até o lobisomem duvida: será que existe o cão fora da meia-noite?
Fomos andando para os arredores de uma iluminação. Foi quando me apercebi que era um velho. Um mestiço, até sem má aparência. Mas era um da quarta idade, cabelo todo branco. Não parecia um pobre. Ou se fosse era desses pobres já fora de moda, desses de quando o mundo tinha a nossa idade. No meu tempo de menino tínhamos pena dos pobres. Eles cabiam naquele lugarzinho menor, carentes de tudo, mas sem perder humanidade. Os meus filhos, hoje, têm medo dos pobres. A pobreza converteu-se num lugar monstruoso. Queremos que os pobres fiquem longe, fronteirados no seu território. Mas este não era um miserável emergido desses infernos. Foi quando, cansado, perguntei:
— O que quer de mim?— Eu quero conversar.— Conversar?— Sim, apenas isso, conversar. É que, agora, com esta minha idade, já ninguém me conversa.
Então, isso? Simplesmente, um palavreado? Sim, era só esse o móbil do crime. O homem recorria ao assalto de arma de fogo para roubar instantes, uma frestinha de atenção. Se ninguém lhe dava a cortesia de um reparo ele obteria esse direito nem que fosse a tiro de pistola. Não podia era perder sua última humanidade — o direito de encontrar os outros, olhos em olhos, alma revelando-se em outro rosto.
E me sentei, sem hora nem gasto. Ali no beco escuro lhe contei vida, em cores e mentiras. No fim, já quase ele adormecera em minhas histórias eu me despedi em requerimento: que, em próximo encontro, se dispensaria a pistola. De bom agrado, nos sentaríamos ambos num bom banco de jardim. Ao que o velho, pronto, ripostou:
— Não faça isso. Me deixe assaltar o senhor. Assim, me dá mais gosto.
E se converteu, assim: desde então, sou vítima de assalto, já sem sombra de medo. É assalto sem sobressalto. Me conformei, e é como quem leva a passear o cão que já faleceu. Afinal, no crime como no amor: a gente só sabe que encontra a pessoa certa depois de encontrarmos as que são certas para outros.
Mia Couto
O caçador, Miguel Torga
- Veja vossemecê... - dizia ele, a contratar o preço. - Eu sei lá!...
Com oitenta e cinco anos, a vida fora-lhe sempre estranha como se a não tivesse conhecido. Casara, tivera filhos, mas nada disso o tocara por dentro. Virgem e selvagem na alma, continuava a caçar, e só embrenhado entre giestas e urgueiras é que ouvia, se ouvia, os clamores da mulhner e o ganido das crias.
Saía cedo, sempre supersticioso das menstruações da Camila, a vizinha do lado, que lhe mudavam a direcção do chumbo, e regressava altas horas da noite, colado ao granito das paredes, e assim escondido dos olhos curiosos da povoação.
- Por onde andaste?
- A pobre da Catarina, a princípio, ainda tentou encontrar naquele destino pontos de referência em que pudesse firmar-se. Mas as respostas vinham tão vagas, tão distantes, que se atirou às leiras e deixou o homem às carquejas. Não era que ele mesmo enredasse os caminhos e despistasse conscientemente a companheira. As peripécias da caça e a cegueira com que galgava os montes é que o impediam à noite de relatar o trajecto seguido. Se quisesse e soubesse dizer por que trilhos passara, falaria de veredas e carreiros que nunca conhecera, descobertos na ocasião pelo instinto dos pés e rasgados no meio de uma natureza cósmica, verde como uma alucinação, com alguns ramos vistos em pormenor, por neles pousar inquieto um pombo bravo ou se aninhar, disfarçada, uma perdiz. Ás vezes até se admirava, ao regressar a casa, de tanta bruma e tanta luz lhe terem enchido simultaneamente os olhos. Serras a que trepara sem dar conta, abismos onde descera alheado, e um toco, um raio de sol, o rabo de um bicho, que todo o dia lhe ficavam na retina. É claro que nem sempre as horas eram assim. Algumas havia de perfeita consciência, em que nenhum pormenor da paisagem lhe escapava, as próprias pedras referenciadas, aqui de granito, ali de xisto. Mas, mesmo nessas ocasiões, qualquer coisa o fazia sonâmbulo do ambiente. Era tanta a beleza da solidão contemplada, despegava-se das serranias tanta calma e tanta vida, os horizontes pediam-lhe uma concentração tão forte dos sentidos e uma dispersão tão absoluta deles, que os olhos como que lhe abandonavam o corpo e se perdiam na imensidão. Simplesmente, essa diluição contínua que sofria no seio da natureza não excluía uma posse secreta de cada recanto do seu relevo. Uma espécie de percepção interior, de íntima comunhão de amante apaixonado, capaz de identificar o panasco de Alcaria pelo cheiro ou pelo tacto. A caça fora a maneira de se encontrar com as forças elementares do mundo. E nenhuma razão conseguira pelos anos fora desviá-lo desse caminho. A meninice começara-lhe aos grilos e aos pardais, a juventude e a mairoidade passara-as atrás de bichos de pêlo e pena, e agora, velho, as contas do seu rosário eram meia dúzia de cartuchos que, sentado, ia esvaziando no que aparecia. E a vida, a de todos os dias e de toda a gente, com lágrimas e alegrias, ambições e desalentos, ficara-lhe sempre ao lado, vestida de uma realidade que que não conseguia ver. A aldeia formigava de questões e de raivas, e ele coava- lhe apenas a agitação de longe, vendo-a fumegar na distância, ao anoitecer, e acariciando-a então num cansaço doce e contemplativo.
- Casou a Dulce...
- Ah, sim?...
Ouvira, de facto, imprecisamente, a voz do sino grande chegar repenicada e festiva ao Falição, mas o seu espírito não pudera nesse momento, nem podia agora, descer da nuvem de abstracção que o envolvia.
- Muito bonita ia o demónio da rapariga!
Humana, mulher, a Catarina tentava chamá-lo a uma consciência que reanimasse fogueiras mortas, sonhos desfeitos. Nada. O pensamento dele não estava ali: perdia-se nos projectos do dia seguinte, já cheio do rumor alvoroçado do bando de perdizes que sabia ir levantar da cama ao romper da manhã.
- Morreu a Palhaça...
- Ah, morreu?
E continuava a dar à manivela do rebordador, encontrando no cartucho, túmido como uma semente, não sabia que verdade mais profunda e mais transcendente do que aquela morte.
A velhice e o reumatismo tentaram com toda a brutalidade metê-lo noutros varai. Mas ele lutava, e, embora limitado às cercanias da aldeia, continuava ainda a sonhar.
Contudo, sem a liberdade absoluta dos longes, o seu espírito já não podia voar como dantes. A povoação ficava-lhe demasiado perto para lhe ser possível um alheamento como o de outrora. E os olhos, cansados e traídos, começaram a mostrar-lhe o mundo triste dos outros. Contra vontade, observava, então. Mas em casa, à noite, a mulher punha o acontecido a uma luz tão desconforme com o que ele vira, tão alheia à sua compreensão, que fechava a boca e não respondia.
- Os Canedos berraram...
- Eu vi...
- A cunhada chamou curta à Ana... O que ouvira eram gritos, evidentemente, insultos, com toda a certeza, mas nomes asssim... E uma tristeza muda apertava-lhe o coração.
- Um roubo em casa do Antunes...
- Bem me pareceu...
- Batatas, trigo, muita roupa, um presunto...
Quase que surpreendera o Rodrigo e a mulher com a boca na botija, e sabia que não, que o que esconderam na mina velha, e pudera examinar à vontade, era uma sombra daquilo. De maneira que cada vez se metia mais consigo, com medo do vidro de aumento que deformava tudo e envenenava os sentimentos. Porque uma coisa sabia ele: é que quase um século de caça não lhe endurecera nem lhe empeçonhara a alma. Matara, sim, e matava ainda, se podia, mas não era com ódio, a gritar maldição, que o tiro partia. Mais amorosamente do que mortalmente, o dedo premia o gatilho. E quando, a seguir, a lebre esperneava ou a codorniz gemia, a sua mão aligeirava docemente aquela agonia, numa carícia aveludada. Entre o sangue de pertiz morta - que através do cotim da calça, morno, lhe acordava a consciência da pele - e o seu próprio sangue, não havia o muro de nenhuma desarmonia. A morte que a arma fazia tinha no mesmo instante uma ressurreição dentro dele.
Mas a aleluia do formigueiro humano que o rodeava era outra.
- A Rosária a flara em moralidade! Se reparasse na filha...
- A Matilde? Qu fez ela?
- Nem tu sabes!
Palavra, que não sabia. Atravessara os anos como um duende, puro, alheio à raiva e à ganância, inocente, pronto a comover-se diante da primeira flor. Uma virtude, sobre todas, conservara sempre: a da lisa naturalidade. E por isso, no meio da incapacidade que sentia para entender o tecido de razões com que era feito o mundo que o cercava, a malha que menos o prendera era aquela onde se dabatiam forças e gestos de amor. O cio, a brisa de sémen que agitava todos os seres vivos durante alguns dias em cada ano, sabia-lhe à frescura de uma onda sagrada. Então, oleava e arrumava a arma, e os seus olhos, de caçador ainda, seguiam a revoada do casal de melros, o trajecto de um coelho, as pegadas da raposa, mas para os acompanharem comovidos naquela dádiva sensual e procriadora.
Infelizmente, só ele é que entendia de uma maneira assim inocente as coisas que tinham intimidade de ninho e calor de seiva. Porque a aldeia, que olhava compreensivamente as reses alevantadas, diante de uma rapariga cega de amores erguia-se como se visse um crime.
- Ela e o Avelino parecem cães à cainça.
- E que mal há nisso? Maiores e vacinados, que tinha que ver o mundo com o que o corpo lhes pedia? Mas os pais, aqui-del-rei que os enforcavam se olhassem sequer um para o outro, e a terra inteira aplaudia. Acontecia ainda que o Travassos, todo lá da mãe da rapariga, punha em semelhante martírio a sombra de uma perseguição.
De fora, mas infelizmente não de tão longe como desejava, o Tafona assistia à cena. Sentado à sombra da nogueira molar, e perto da poça onde vinham beber, esperava as rolas. E lá em baixo, na veiga, o seu olhar cansado ia acompanhando a comédia. A cachopa, de molho à cabeça, a pasar na Silveirinha; o rapaz a deixar a rabiça na lavrada e a sair-lhe ao caminho; e o esqueleto deo Travassos, abelhudo e ciumento, a correr a avisar as famílias.
Via e ficava a malucar naquilo, no contra-senso de tudo e de todos. Pois não seria melhor, mais justo, mais humano, deixá-los juntarem-se livremente, à lei da natureza? Contudo, daí a nada, a rapariga ia a toque de caixa pelo Teixo abaixo, e o rapaz retomava o arado a ouvir berros do pai.
- Uma pouca vergonha... - recomeçava a Catarina à noite, depois do caldo.
- O quê?
- O que há-de ser? A Matilde e o Avelino... Se não o Travassos...
Calou-se como de costume. Decididamente, cada vez entendia menos tal mundo.
Mas as pernas atraiçoavam-no miseravelmente, e embora quisesse fugir para muito longe, tinha de se resignar às leis da idade e caçar de emboscada coelhos pacatos na vinha velho do prior.
Era um Setembro puro. Videiras que pareciam cedros e cachos com bagos como bugalhos. Manco, o Tafona, foi-se arrastando e ainda a tarde vinha a cair além-Doiro já ele estav no seu posto, sentado, imóvel e silencioso, com a arma engatilhada sobre a coxa.
Como habitualmente, quase nem respirava. Por muito inocentes que fossem os láparos, farejavam ruído a cem léguas. E o Tafona, conhecedor daqueles ouvidos, apertava os pulmões.
A espera nunca lhe dava inteira paz de espírito. Forçava-o a uma espécie de compromisso com a parte traiçoeira da vida, estremando os campos do agredido e do agressor. Entre ele e o bicho não havia, daquela maneira, um verdadeiro encontro, um embate de forças. Tudo se passava sem alegria e sem eco, choque abafado, como o de uma pinha aberta a cair no musgo.
Subitamente começou a sentir sons indistintos. Prestou atenção. Passos. Passos de gente, e grande.
- Bolas! - disse, sem abrir a boca. De facto, perdera o tempo. Para que tudo retomasse a quietude inicial e os coelhos se resolvessem a vir gozar a fresca, seriam precisas horas, e então já não teria luz.
Os passos eram da Matilde, sorrateira, a saltar um bardo e a sumir-se na vinha.
- É boa!... - murmurou outra vez intimamente, agora noutro tom.
Mas ainda o seu espanto não acabara, já o Avelino, do lado do monte, lépido, deslizava para o meio da ramagem.
Riu-se. Desta vez riu-se com a sua mansidão habitual, sem barulho, enternecidamente, como se estivesse nos velhos tempos e visse no azul do céu dois pintassilgos a voar para o mesmo ninho.
Infelizmente, os namorados a desaparecerem, e sobre eles, de nariz no rasto, numa perseguição de rafeiro, o Travassos que, por acaso, caminhava direito à arma do caçador.
O Tafona nem teve tempo de pensar. Parou a respiração e encolheu-se quanto pôde atrás do esconderijo.
O abelhudo vinha apressado e chegou a tiro.
- Alto lá! - ordenou-lhe então, sereno, mostrando o corpo.
O Travassos estacou, apalermado. Por fim viu quem era e falou-lhe:
- Sou eu, ó ti Zé!
- Bem sei. Mas não te mexas.
- O Travassos, ti Tafona. Deixe-me ir salvar a infeliz!
A tremer e de olhos esgazeados, o zeloso coscuvilheiro não conseguia perceber. Mas o Tafona tinha-lhe friamente a espingarda endireitada ao peito, e ninguém da aldeia confiava na alma solitária do caçador.
- Alto, e nem tugir nem mugir! Aquelas coisas querem-se na paz do Senhor...
Torga, Miguel, Novos contos da montanha, 13a edição, Coimbra (pp. 53-63)
AS LÁGRIMAS DE DIAMANTINHA – MIA COUTO
– Chore por mim, Diamantinha.
O visitante sentava na sombra do djambalau e divulgava suas mágoas. Às vezes, pareciam tristezas de bichos. O homem, para ser humano, tem que ser desumano? O que é certo: ninguém tem ombros para sustentar sozinho o peso de existir. Afinal, a vida se confirma a força de rasgão: ela dilacera logo no acto de nascer, separando mais que a própria morte. E assim, também naquela aldeia não havia quem não tivesse motivos para sentar no banco de Diamantinha, requerendo lágrimas na sombra da grande árvore.
Diamantinha gastava o tempo nesse desfilar de desgraceiras. Única condição: ela devia olhar de frente o contador de tristezas, olhos nos olhos, lágrima de um humedecendo a alma do outro. No final, ela baixava o rosto, sacudindo os braços por cima da cabeça. E chorava. Cada lágrima aliviava o confessor, faz conta a mão de um anjo suavizando feridas.
Diamantinha chorava belo e aprazível: nunca ela ranhava, nem carantonheava. Escorriam as lágrimas como simples transbordância., tresvasar de ondas sob as pálpebras, insuficientes diques. A tristeza mungia-lhe os olhos e lá vinha, undoso e gordo, o rosário das lagrimosas.
O marido, calculista, viu nos serviços da esposa uma hipótese de negócio. E havia até urgência: Diamantinha se ia fatigando de brotar tanta água. Um dia, ela esgotaria as fontes. Antes que isso sucedesse, o marido decretou a seguinte ordem:
– Em diante, você só chora para quem paga.
– Mas, marido, isso nem se pode.
– Não se pode!? Quem é você para saber destrançar o possível do impossível?
– É que lágrima é coisa sagrada...
– Conversa, mulher. Sagrados são os tacos, sejam cifrões, sejam cifrinhos.
– Não é desrespeito, mas me diga, marido: se é tão importante o dinheiro, por que você não trabalha para o ganhar?
– Eu? Não posso, estou muito ocupado. Agora, por um exemplo, ando a deixar crescer os bigodes, um de cada lado.
– Você é quem sabe, marido.
Marido está sempre na mão de cima? Homem disfarça que comanda, mulher finge obediências. A ordem das coisas: mundo e vida são o inseparável casal.
E as gentes continuaram afluindo, agora vestidas em clientes. O marido armara a mesa, à entrada da sombra, e cobrava a consulta. E se contentava empilhando as moedinhas enquanto a esposa se derramava, liquidesfeita. Aranha faz sua casa de quê? De lágrimas, aquilo parece seda mas não é senão o coração esfiapadinho. Disso sabia a lagrimadeira diamantinha.
Uma tarde, compareceu no djambulau um tal Florival, um homem estranho, brutamonstro. Dele se dizia ser bebedor de trevas, atravessado de serpente. Corria que o Florival fazia das outras vidas o que a jibóia faz com o cabritinho: enrolava-as e esmiudava-as até ficarem engolíveis. Diferença é que depois ele não engolia nada. Todavia, no caso real, o aspecto sobrava da aparência. O Florival tinha corpo magnífico mas era incompetente para maldades. O homem se aperfeiçoara a palerma, baratonto, estupefátuo.
E tanto era que, aos domingos, o monstro se vestia de mulher, envergando sempre um mesmo vestido castanho com grandes girassóis amarelos. As flores no vestido contradiziam o aspecto malfeitor. O homem era alvo das gerais zombarias – dito, desdito e maldito. Até havia mão que afagavam as falsas curvas do peito.
Pois nessa tarde, o Florival sentou-se na pedrinha, envergonhado a modos de justificar o vestido na conformidade de suas peludas pernas. O que ele confessou fez arrepiar a choradeira. Disse assim: que ele há muitos anos lhe dedicava amor exclusivo, ímpar e imparável.
– Me ama a mim, Florival?
Sacudindo a cabeça, ele lhe pediu para não ser interrompido. Pois, o cada dia lhe dava hoje, ele lhe rezava, lhe enviava as mais subtis prendas. Eram diminutas delicadezas: um raminho, um nó de capim, réstias de ninho. E ela, ela nem notava. E por razão de tanta indiferença, o coração dele se encaroçou. Para poupança de sofrimento Florival se resolveu converter em mulher. Assim, colega de mesmo gênero, ele não a olharia como destino de seus desejos.
– Nós ambos somos ambas.
Diamantinha escutou tudo até ao fim. Levantou-se e espreitou entre os ramos do djambulaueiro. Puxou com força como se entendesse desventar a árvore. Depois chorou, chorou como nunca tinha feito. O marido, vendo a demora, espreitou e lhe fez sinal: havia mais para quem chorar. E fez ponto na sessão.
Na tarde seguinte, Florival regressou e foi o mesmo derrame de pranto. E de novo o marido, zeloso, ordenou parcimónia. Na terceira tarde, Diamantinha deixou que Florival se sentasse, em seus femininos trejeitos, e lhe disse:
– Não tenho mais lágrima.
E pediu um lugarzinho na pedra. Sentou-se, espremida no mesmo assento. Ficaram assim em silêncio até que Diamantinha pediu autorização para ajeitar um girassol que escapava do vestido.
– Está tão velhinho este meu vestidinho...
E trocaram conversas de mulher, os acertos que faltavam no cabelo, o nó no lenço da cabeça, o anel que fugia pela magreza do dedo. Diamantinha lhe pediu então:
– Dê-me as suas mãos. Quero lhe dar uma coisa.
– Não precisa me dar nada, Diamantinha.
– São minhas últimas lágrimas. Me dê as suas mãos. Rápido antes que esfriem.
Florival estendeu as mãos em concha. E dos dedos de Diamantinha penderam aqueles cristaizinhos, desfocadas águas tremeluzindo em fundo escuro. Afinal, aquilo eram diamantes, preciosos tesouros.
– São verdadeiros?
Em amor tudo é verdadeiro. Florival e Diamantinha se fitaram, até seus olhos perderem o pé. Sem dizerem palavra, se enfeitaram entre folhagens, furtando-se pelos matos. Dizem os camionistas que, já noite, viram derivar pela estrada um casal de avessas aparências: ele vestido de mulher, ela em roupas de macho. Tombava uma chuvinha leve, simulando fluir da terra para o céu. E Diamantinha, braços abertos, ajuntava novas gotas em seu peito choradeiro. Mia Couto
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984. p. 446-8.
Não posso adiar o amor; Ramos Rosa
Análise formal
Trabalho realizado pela colega Mafalda Ferreira
Miguel Torga e o brinquedo
Brinquedo
Foi um sonho que eu tive
Era uma grande estrela de papel
Um cordel
E um menino de bibe
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel
E o menino ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.
Análise externa ou formal
Este poema não segue uma estrutura formal, pois segue uma ideia de liberdade formal defendida pelos poetas do séc. xx.
O esquema rimático é abba/cdcd/efef, ou seja, interpolada em a e cruzada nos dois últimos versos.Quanto ao número de sílabas métricas o poeta não segue a estrutura normal devido à estrutura variada do séc. xx.
Análise interna
O tema central do poema é o sonho , que na realidade aparece sob a forma de esperança ,uma vez que, o «eu poético» lança a estrela de papel e de repente ela transforma-se numa verdadeira estrela , daí a introdução da metáfora vinda por parte do sujeito poético para demonstrar a magia.
Há um paralelismo entre a estrela e Miguel Torga, já que, de uma hora para outra deixa a forma de papel e transforma-se numa verdadeira estrela neste caso homem ”Mas tão alto subiu/Que deixou de ser estrela de papel”.
Na primeira parte do texto inicia se um sonho onde se insere uma estrela de papel, um cordel e um menino de bibe. A estrela representa a esperança de um dia brilharmos: “O menino tinha lançado a estrela / Com ar de quem semeia uma ilusão”; o cordel demonstra que num determinado momento podemos estar presos a algo e, no seguinte, já não estar “(...) E o menino ao vê-la assim ,sorriu/ E cortou-lhe o cordel; o menino representa a alegria e a esperança “(...) Foi um sonho que eu tive / Era uma grande estrela de papel / Um cordel/ E um menino de bibe”.
Na segunda parte do texto deparamo-nos com o desejo do menino de lançar a estrela, ou como nos diz o poema, como de quem semeia uma ilusão.
Nos últimos versos, o desejo de a lançar já fora realizado, a estrela já se tinha transformado e o resultado pretendido fora alcançado, reparamos também que o sujeito poético utilizou os verbos no pretérito imperfeito, pois retrata a sua rica infância e a lembrança de um dia ter sido criança.
Trabalho realizado pela colega Denise.
Lírica camoniana
Formas poéticas
Medida Velha, influência tradicional
Geralmente na primeira estrofe apresenta o tema, que explica e
carateriza na segunda estrofe, exemplificando no primeiro terceto e conclui com
a chamada «chave de ouro», ou seja, uma imagem expressiva, dando a solução do
soneto.
Pode ser apresentado em três formas de distribuição dos versos:
Soneto italiano ou petrarquiano: apresenta duas estrofes de quatro versos (quadras) e duas de três versos (tercetos).
Soneto inglês ou Shakespeariano:
três quadras e um dístico.
Soneto monostrófico: Apresenta uma única
estrofe de 14 versos.
Uma proposta para analisar um poema
1. Análise da estrutura externa ou formal
1.1. Número de estrofes do poema.
1.2. Número de versos por estrofe e classificação.
1.3. Esquema rimático e tipo de rima.
1.4. Número de sílabas métricas.
Há que ter em conta a época em que se contextualiza o poema, pois poderá não respeitar estes itens de análise. Assim sendo, também é importante salientar a liberdade formal.
2. Análise da estrutura interna ou do conteúdo
2.1. Tema central do poema.
2.2. Assunto desenvolvido.
2.3. Como se distribui o assunto ao longo do poema, em partes, momentos e que relações se estabelecem entre elas.
2.4. Recursos morfológicos (substantivação, adjectivação, tempos verbais,...), sintácticos (tipos de frases,...) e semânticos (figuras de estilo), que se inscrevem no poema e de que modo contribuem para a expressividade e enfatização das ideias da mensagem exprimida pelo «sujeito poético».
Há que ter consciência que um poema é tão aberto e susceptível de tantas análises diferenciadas quantas as sensibilidades que o olham.
Lourenço, Eduardo Tempo e Poesia, Gradiva, 2003
Como na hora em que concebemos a Esfinge para nos tocarmos melhor, continuamos sendo aqueles que procuram danadamente uma autêntica face do homem, uma existência em busca duma essência. Ou uma essência descontente de si mesma buscando-se entre possibilidades múltiplas de existir. (p. 32)
O paradoxo, a dialética, refazem às direitas um mundo às avessas ou vice-versa. Mas é o mesmo mundo. Só a palavra poética é libertação do mundo. […] É da luz que a palavra poética concentra misteriosamente que a nossa existência recebe o máximo de claridade. (p. 38)
Eduardo Lourenço, Revista Única, Expresso, 31 de Dezembro de 2009
O que merecerá o nome da poesia é a mais alta criação humana. É o verbo divino. Só tem equivalente na música. Tenho uma paixão por poesia.
Como diria o romantismo alemão, a ficção é a mais alta poesia. O real é tão intensamente poético, é uma ofuscação, que só a ficção acede a essa realidade. O Proust leva quatro mil páginas para descrever a realidade.
Nós, a Humanidade, estamos sempre no mesmo ponto, o ponto zero. Mas cada vez é mais difícil estar nesse ponto de origem.
[Heidegger] teve intuição. No meio de uma ficção moderna, que é extremamente sofisticada e desconstrutiva, com séculos atrás em competição, ele intuiu que estávamos num tempo de autocomplacência.
A síntese, o resumo
Uma síntese contempla as principais ideias de algo. É possível, portanto, fazer uma síntese de um livro, um filme, etc.
A escrita de uma síntese começa pelo entendimento do conteúdo em questão. Ao elaborar uma síntese, certifique-se de que há relação entre as frases e parágrafos. O uso de conectivos é fundamental nesse caso (em primeiro lugar, enfim, principalmente, afinal, etc.). Também é necessário usar uma lógica de construção do texto. Tenha o cuidado de refletir a essência do conteúdo com exatidão e não incluir itens que não foram abordados no texto original.
- Ler o texto para apreender a(s) ideia(s) centrais.
- Sublinhar as ideias centrais, tópicos e assinalar os elementos de sentido principais (núcleos semânticos)
- Com os sublinhados elabora um plano esquemático, que te ajudará a organizar o texto e os parágrafos do teu resumo.
- Começa a escrever o teu resumo, respeitando o conteúdo e organização do texto a resumir. Não te esqueças de recorrer ao teu esquema.
- Lê o teu resumo e avalia-o, corrigindo os aspetos que achares necessário, aperfeiçoa a linguagem do texto, a construção de frases, substitui palavras e expressões repetidas.