Lourenço, Eduardo Tempo e Poesia, Gradiva, 2003

a Esfinge é a encarnação perfeita da ambiguidade radical da situação humana. E ao mesmo tempo a realização plástica mais concreta do acto original do homem: a poesia. (p.28)

Como na hora em que concebemos a Esfinge para nos tocarmos melhor, continuamos sendo aqueles que procuram danadamente uma autêntica face do homem, uma existência em busca duma essência. Ou uma essência descontente de si mesma buscando-se entre possibilidades múltiplas de existir. (p. 32)

O paradoxo, a dialética, refazem às direitas um mundo às avessas ou vice-versa. Mas é o mesmo mundo. Só a palavra poética é libertação do mundo. […] É da luz que a palavra poética concentra misteriosamente que a nossa existência recebe o máximo de claridade. (p. 38)

Eduardo Lourenço, Revista Única, Expresso, 31 de Dezembro de 2009

O que merecerá o nome da poesia é a mais alta criação humana. É o verbo divino. Só tem equivalente na música. Tenho uma paixão por poesia.

Como diria o romantismo alemão, a ficção é a mais alta poesia. O real é tão intensamente poético, é uma ofuscação, que só a ficção acede a essa realidade. O Proust leva quatro mil páginas para descrever a realidade.

Nós, a Humanidade, estamos sempre no mesmo ponto, o ponto zero. Mas cada vez é mais difícil estar nesse ponto de origem.

[Heidegger] teve intuição. No meio de uma ficção moderna, que é extremamente sofisticada e desconstrutiva, com séculos atrás em competição, ele intuiu que estávamos num tempo de autocomplacência.

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