Para além do tempo

Estava eu no autocarro, sentado nos bancos de trás a ouvir a música: «U Make Me Wanna» quando, de repente, a bateria foi a baixo.

- Não tenho nada para fazer e ainda faltam dez minutos para o autocarro partir. Se estão a perguntar porque estou tão cedo no autocarro é porque tenho sempre um certo receio em perdê-lo.

Faltavam sete minutos para partir quando vejo uma idosa a entrar e a sentar-se nos bancos da frente. Aqueles que são para deficientes, grávidas e crianças de colo. A senhora estava a olhar para a janela como se estivesse à espera de alguém.

Faltavam três minutos para partir, quando aparece outra idosa, ofegante, porque estava com receio de perder o autocarro, como eu. Mal a senhora entra, a outra que lá estava, rasga um sorriso enorme, como se fosse uma sua amiga muito querida de há muitos anos.

O autocarro partiu, tendo eu uma vista privilegiada para o que estava a acontecer: O nascimento de uma bela amizade, forte, que iria durar muito tempo.

Ao longo daquelas quatro paragens, falou-se do tempo, de política e até de sexo entre aquelas duas senhoras completamente desconhecidas ate aí.

A partir desse momento, as senhoras encontraram-se todos os dias à mesma hora no mesmo lugar, no autocarro das 13:25h.

Um dia tomei conhecimento que uma das senhoras tinha falecido e fiquei devastado ao tomar conhecimento desta notícia, pois mal a sua amizade tinha florescido terminara.

Mas ao chegar ao autocarro, tenho uma surpresa … Vejo uma das senhoras e uma jovem ao seu lado, que não é mais nem menos que a neta da senhora que tinha falecido.

Quando me cruzei novamente com aquela jovem, descobri que, na altura em que a sua avó tinha morrido, esta lhe pedira para apanhar o autocarro das 13:25h todos os dias. Deste modo não entristecia a sua amiga, que assim continuaria a conversar sobre politica, tempo e sexo.

João Pedro Loureiro Passos Nº19 10º7ª